24 Apr
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Cristo Protetor de Encantado já é considerado amuleto em meio às crises que assolam a humanidade nos dias de hoje

Transformar pedaços de cimento bruto em obras de arte e proporcionar momentos de reflexão e de fé. Esse é o desejo de Markus Moisés Rocha Moura, de 41 anos, responsável pela criação e construção do maior Cristo do Brasil, erguido no Morro das Antenas, em Encantado e que vem chamando a atenção do mundo inteiro. Seja pela grandiosidade do projeto, pela riqueza dos detalhes que tornam a imagem de cimento mais humanizada ou somente pela fé. Desde que os braços e a cabeça do Cristo Protetor de Encantado foram içados e colocados em suas devidas posições, a cidade vizinha virou o centro das atenções, inclusive do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes que prometeu vir para a inauguração da obra. De braços abertos para o Vale do Taquari, o Cristo Protetor de Encantado já é considerado amuleto em meio às crises que assolam a humanidade nos dias de hoje. A obra surge no momento em que as pessoas buscam respostas para seguir longos caminhos de incertezas e medos. Para materializar o mais novo cartão postal e futuro ponto de peregrinação religiosa, Moura, que há 21 anos trabalha com esculturas, esculpe, detalhadamente, peça por peça.

Conforme o artista cearense, em toda a sua trajetória, este é o primeiro trabalho nas dimensões do Cristo Protetor. Moura lembra que no município de Ibiraçu, no Espírito Santo, ele e sua equipe construíram um Buda de 60 metros, porém sentado. “Este trabalho é o primeiro que realizo em linha reta, de cima para baixo”, explica.

Para desenhar o Cristo, Moura buscou conselhos com em seu pai, Genésio Gomes Moura, considerado por ele como seu mentor. Segundo Moura, todos os detalhes e ideias são discutidos com o patriarca da família. Sabendo de uma possível comparação com o Cristo Redentor do Rio de Janeiro, o artista buscou humanizar a imagem construída em solo encantadense. Segundo ele, a obra carioca serve de modelo para as demais espalhadas pelo país. “Um Cristo abraçando as pessoas, a cidade, ele vai abrir os braços. Então, é natural que tenha essa comparação. Mas, o Cristo do Rio é estilizado e o nosso de Encantado é mais realista, com detalhes mais humanos”, garante. “Os visitantes vão encontrar um Cristo com unhas arredondadas, linhas de expressão, um manto diferente, sobre todo o corpo, bem reais. Quem vier à Encantado vai conseguir ver os detalhes das mãos, rosto, o fio da barba. Então, vai encontrar esse realismo na obra”, adianta.

Críticas, apoio e expectativas 

Indagado sobre as comparações e críticas recebidas nas redes sociais, Moura diz que isso era previsível, mas garante que o resultado final vai impressionar. “É inevitável a comparação com o Cristo Redentor, que é uma das sete maravilhas do mundo, porque não é só o Cristo em si, mas toda aquela paisagem”, pontua. “Eu vejo por um lado bom essa comparação. E depois, o resultado final, as pessoas vão gostar. E isso que vai ser mais importante. Eu acredito que todos os Cristos tem a sua beleza”, pondera.

Apesar disso, Moura garante que o apoio e incentivo recebido é muito maior. “Está sendo muito satisfatório. Estou muito feliz pela repercussão que está tendo e o carinho com que as pessoas estão me tratando. Essa obra está sendo ímpar, única”, ressalta.

O Cristo passo a passo

Conforme Moura, a construção do Cristo Protetor é realizada em três etapas. O diferencial no trabalho do cearense é que toda montagem da estrutura de ferro, colocação de cimento e modelagem é realizada à mão, sem a utilização de formas previamente preparadas para receber os produtos. Após a secagem do material, o detalhismo do artista é que faz toda a diferença. No final, uma camada formada por uma massa mais fina, com produtos especiais para manter a durabilidade da obra e a aplicação de uma tinta emborrachada vão dar o toque complementar. “Vai ter uma pintura especial para poder aguentar as altas temperaturas, o vento. Tem todo um fundo especial, depois três demãos de uma tinta emborrachada”, explica.

Com o içamento da cabeça e dos braços, o trabalho vai continuar nas alturas. Com a colocação de andaimes, Moura deve começar a moldagem e todas as etapas restantes que envolvem a finalização dos detalhes dos cabelos e mãos do Cristo. O restante (túnica e manto), será realizado por ele e por integrantes da sua equipe que também farão o serviço de telagem e o reboco. Diariamente, a equipe formada por quatro pessoas inicia o trabalho às 7h30min e encerra somente às 18h.

“Cada obra teve o amor do seu escultor”, afirma Moura

Durante a entrevista, o artista deixou claro que respeita todas as obras de arte realizadas por escultores e que não tem desejo de reproduzir nenhuma, caso houvesse oportunidade. Ele afirma que cada uma teve a dedicação e o empenho do escultor, independente se o público vai ou não aprovar. “Se algumas pessoas acham feia ou bonita, cada obra tem a sua identidade, o seu autor e muitas coisas envolvidas por trás daquela pequena ou grande escultura”, acredita. 

Por fim, Moura espera que o Cristo Protetor criado por ele, proporcione ao povo de Encantado e visitantes momentos de fé e reflexão, independente de crença religiosa. “Que traga bons frutos, encha o coração de todos. Que o povo possa se encantar com o que representa essa estátua. Dentro do coração de cada um, lá de criança, dos ensinamentos do pai e da mãe, que existe um Deus que é único. Que está em todas as coisas lindas e maravilhosas. Que isso possa trazer: felicidade para todos”, deseja.

Fotos: Agência Konze, Aldo Nunes e Arquivo Pessoal

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